Na semana passada ocorreu em Brasília a IV Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. O evento teve lugar em hotel luxuoso. Foi hiper concorrido e quem quis comparecer in loco foi obrigado a estacionar longe do hotel e submeter-se a um caminhada light, bem luminosa, considerando o escaldante sol do cerrado. Minha observações, reconheço, são bem ácidas, infelizmente. Espero que as discordâncias e a ênfase de aspectos positivos sejam postadas nos comentários, com o intuito de minimizar os aspectos negativos que aponto aqui.
No fundo achei que foi puro marketing apesar de algumas boas falas. A maioria do que foi dito me pareceu o supra-sumo daquilo que é o nosso melhor produto científico: indicadores. Temos indicadores maravilhosos. Azar da realidade que não condiz com eles. Vi representantes de fundações de amparo à pesquisa estaduais semi-analfabetos falando que é preciso aproximar mais a ciência do mercado e a universidade da academia!!! Qual academia? Aquela do Oscar? Vi também pesquisadores sérios que colocaram sim o dedo na ferida e mostraram que nem tudo são flores e apresentaram ótimos anti-indicadores... Excelentes palestras. Pena que foram poucas e pena que não representaram a tônica geral do evento. Em termos práticos não vi nada de vmuito concreto que apontasse para a superação das deficiências atuais.
A impressão geral foi de um grande evento mais preocupado em ampliar os laços ciência-mercado do que em aprimorar as bases estruturais da ciência-ciência. Sem essa última a questão do mercado fica muito complicada.
Ouvi dizer que o custo do evento foi de mais de R$ 4 milhoes. Não sei se as cifras são mesmo essas, mas não vejo sentido algum em gastar dinheiro público, da C&T para "bombar" as inscrições, que não seja um forte apelo de marketing: tantos mil inscritos compareceram. Passei no evento na tarde do primeiro dia. Ainda estavam sendo feitas inscrições, apesar de não haver mais espaço para caminhar para as palestras. A sessão que escolhi para assistir tinha gente embolada na rua, na frente do hall que antecede o saguão sem conseguir entrar. Imaginei: nossa! a sessão está mesmo concorrida. Não era isso: a plenária estava semi vazia, porque tratava-se do mesmo local onde o presidente Lula faria 4hs mais tarde um discurso sobre nossa maravilhosa política de CT&I. Detectores de metais e outras medidas de segurança impediam o acesso dos interessados à plenária.
Vi também milhares de publicações (de excelente qualidade gráfica, e custo compatível com tal luxo) desesperadas para serem doadas. Publicações publicitárias de empresas governamentais que versavam sobre as maravilhosas realizações e projetos em CT&I, Não pude deixar de pensar em como é difícil manter boas revistas científicas no Brasil e em quão dispendioso é publicar, em papel, tais revistas. O alto custo da edição tem sido, há muito tempo, o calcanhar de Aquiles que atrasa e, muitas vezes, derruba bons projetos editoriais.
Além de uma bolsa de lona, com um desing maravilhoso (será excelente para transportar meu material da aula de metodologia), ganhei também um "voucher vale-lanche". Como, em função das dificuldades de acesso às plenárias, voltei para casa para assistir a conferência via web, não pude degustar a iguaria gourmet.
O fato é que muito pouco se discutiu sobre ciência, no sentido da troca e debate de idéias (comunicação "n" para "n") . Um pouco foi dito sobre ciência por renomados cientistas, porém de modo unilateral (comunicação um para "n"). Muito se falou sobre indicadores e sobre o maravilhoso patamar atual por ilustres ocupantes de cargos, alheios aos fundamentos da ciência (comunicação "blá-blá-blá", ou "n" para zero).
Vamos ver o que os leitores do blog acharam do evento...