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domingo, 8 de janeiro de 2012

Quais são as partes de uma tese?

Copiado de Portal Virtual de Barcelona
Os iniciantes em pesquisa científica sempre tendem a achar que a formatação do trabalho é mais importante que seu conteúdo. Pululam na Internet modelos, templates, apresentações etc. sobre como apresentar e estruturar um trabalho acadêmico. A padronização, sem dúvida, é para lá de benéfica, porém ela não pode ser sobreposta ao mérito do trabalho acadêmico, que é, em última análise, o que garante a qualidade. Mas para que o mérito possa ser julgado é necessário que a pesquisa se, de algum modo, apresentada. A referência básica (notem bem, "referência", não camisa-de-força) é a norma ABNT NBR 14724 (disponível aqui em um domínio USP).

Em paralelo ao esquema bovino acima a referida norma apresenta os seguintes "cortes", que, juntos, compõem a totalidade do trabalho acadêmico. 
:
É importante destacar que, como o próprio cabeçalho diz, isso é um esquema. Um trabalho acadêmico não é como um mecanismo para qual basta juntar e montar corretamente uma série de componentes (parts, em inglês). A ideia da totalidade, do conjunto, do trabalho não pode se perder em função da adaptação a este ou aquele esquema, que prevê a divisão do trabalho em partes e sub-partes. Tais esquemas servem mais para representar a realidade do que para moldá-la. Tais partes são, então, representação de um ideal de trabalho. Recordo-me de uma palestra na qual Eduardo Tomanik provocou a audiência perguntando quais eram as partes que dividiam o Homem. Enquanto a platéia se dividia em palpites do tipo "cabeça, tronco e membros" e "corpo, mente e alma" ele interrompeu o zum-zum-zum dizendo que ele preferia permanecer íntegro, sem ser dividido em nenhuma parte...

A norma NBR 14724 propõe-se como modelo a ser seguido, como uma referência. Porém, do mesmo modo que existem outras possibilidades de cortes bovinos (ver, por exemplo, a deliciosa parrilla argentina) algumas variações podem ser encontradas. Na maioria das vezes representam apenas desconhecimento (ou descaso) com a ABNT, o que é grave; porém, outras vezes, constituem-se como opções deliberadas. Muitas revistas acadêmicas optam por criar normas próprias, derivadas da ABNT em maior ou menor escala. Outros periódicos científicos, por estarem interconectados em uma rede internacional, passam a seguir outros padrões, que podem ter âmbitos distintos, ligados, ou não a alguma normatização de cunho nacional. É muito comum que alguns periódicos hispânicos das Ciências Sociais Aplicadas pautem-se, por exemplo, nas nornas da APA (American Psychological Association). Muitas vezes a adoção ou modificação de normas relaciona-se com a utilização de softwares específicos que permitem de modo mais automático a inclusão de referências e a indexação do documento. 

A minha tese de doutoramento (USP, 2010 - baixe aqui) além de apresentar uma capa com imagem colorida, deliberadamente não trouxe capítulo de conclusão: 
Acreditamos ser desnecessária uma síntese final das idéias desenvolvidas ao longo do texto; deste modo, para evitar uma argumentação tautológica, optamos não apresentar um capítulo final, caracterizado como conclusão. (LOPEZ, 2010, p.6)
Recentemente vi na comunidade "Storytelling & Transmedia" do Facebook uma impressionante e divertida brincadeira com uma nota de rodapé em um capítulo introdutório:
Copiado de Trabalho Sujo
O mais importante não é criar as próprias normas ou, iconoclasticamente, desprezá-las. É fundamental bem conhecê-las e bem aplicá-las para, se necessário for, adaptá-las ou, mesmo, transformá-las. Do contrário, o pesquisador iniciante corre o risco de brincar de "aprendiz de feiticeiro" e colocar tudo a perder.

Além da mencionada NBR 14724, é importante conhecer as demais que norteiam a produção acadêmica. Veja post sobre esse assunto aqui.

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